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O que preservou a
graça ainda como preciosa, foi uma má interpretação da mesma. O monasticismo,
tolerado pela igreja romana, foi quem manteve com o abandono da vida que
possuíam, levando a vida procurando servir os severos mandamentos de Jesus na
prática diária. Dessa maneira houve o protesto vivo contra a secularização do
cristianismo, contra o barateamento da graça.
Entretanto, pelo fato
de ter tolerado a vida monástica, evitando assim uma cisão definitiva na
história da igreja romana, a igreja o relativizou, encontrando nele certa
justificação de seu próprio mundanismo. A vida monástica restringia-se e
transformava-se numa realização especial de caráter individual, que não poderia
ser exigida ao povo cristão.
O monasticismo não se
enquadra no que o apóstolo Paulo se refere acerca do não casamento para uma
vida dedicada. A despeito disso, o monasticismo distanciou-se essencialmente do
cristianismo por se deixar transformar ele próprio na realização excepcional,
voluntária, restringida a poucos, reivindicando a si mérito especial. Isso não
é discipulado, nem graça preciosa, pois a graça não se restringe a alguns.
A história toda mudou
por intermédio de Lutero, que na Reforma, avivou uma vez mais o Evangelho da
graça pura e preciosa. Mas antes Lutero teve sua vida consagrada totalmente no
convento. Ali aprendeu nas escrituras que somente o obediente é que pode crer.
As escrituras lhe mostraram que o discipulado de Jesus não era a realização
meritória de alguns, mas um mandamento estendido a todos os cristãos.
A graça nos leva ao
mundo, não que este seja bom e santo. Estamos na graça piedosa quando não
precisamos viver com nosso eu piedoso, com o si mesmo – aquele que quiser vir
após mim, negue-se a si mesmo. O discipulado da graça preciosa é para ser
vivido no seio do mundo. Essa obediência ao mandamento de cristo deve acontecer
na vida profissional todos os dias.
A vocação de cada
cidadão no mundo recebe nova legitimidade a partir do Evangelho somente à
medida que é exercida no discipulado de Jesus. O que impulsionou Lutero não foi
a justificação do pecado, mas do pecador. A graça leva ao serviço, ao
discipulado.
Quando entendemos
errado a graça caímos no pensamento que, se a graça é suficiente para pagar
todos os pecados e me justificar, então se eu viver naturalmente como tenho
vivido, tudo como antes, vivendo na certeza que a graça de Deus encobre. O mundo
inteiro está se tornando ‘cristão’ nessa premissa, desta graça. A má utilização
dessa mensagem de graça conduz à completa destruição.
O desafio hoje é em
meio a tanto falatório não se deixar pela facilidade e comodidade, entrar pela
graça barata, sem responsabilidade dos atos.
Para esse pensamento
sobre a graça preciosa no entendimento de uma vida de discipulado, cito Hebreus
10, que no contexto sobre o sacrifício de Cristo e seu valor eterno, diz a
partir do versículo 16 ao 18: "Esta é a aliança que farei com eles,
depois daqueles dias, diz o Senhor. Porei as minhas leis em seus corações e as
escreverei em suas mentes"; e acrescenta: "Dos seus pecados e iniquidades
não me lembrarei mais". Onde essas coisas foram perdoadas, não há mais
necessidade de sacrifício pelo pecado.; e acrescenta no versículo 26 e 27: Se continuarmos a pecar deliberadamente
depois que recebemos o conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos
pecados, mas tão-somente uma terrível expectativa de juízo e de fogo intenso que
consumirá os inimigos de Deus.
A fidelidade está imbuída na vida cristã, na
vida de discipulado, no reconhecimento da graça preciosa. Dessa forma o
escritor aos hebreus finaliza o capítulo.
Mas o meu justo viverá pela fé. E, se
retroceder, não me agradarei dele". Nós, porém, não somos dos que
retrocedem e são destruídos, mas dos que creem e são salvos.
Hebreus 10:38,39
Por Félix Martins Lírio