11.1.17

Discipulado - a graça preciosa (parte 1)





Quem está inserido no meio eclesiástico, ou já foi abordado pelos agentes das igrejas, já deve saber, por mais que de maneira leiga, o que é GRAÇA.

Muitos utilizam o jargão do favor imerecido. Perfeito. Trilharemos nosso pensamento com essa premissa.

A essência da graça seria que a conta foi liquidada antecipadamente e para todos os tempos e pessoas. Estando, então, a conta paga, pode-se obter tudo gratuitamente. Que tudo? Salvação e comunhão com Deus. Por ser imensuravelmente grande o preço pago, da mesma forma são as possibilidades de uso e dissipação.

Porém o maior inimigo das mentes dos que escutam é a própria graça, mas da maneira ‘genérica’ com que é apresentada: a graça barata. A graça barata significa graça como doutrina, como princípio e sistema; significa perdão dos pecados como verdade geral, irrefutável, o amor de Deus como conceito, repito, apenas conceito cristão de Deus. Quem o aceita já tem o perdão de seus pecados. O mundo, assim, encontra fácil cobertura para seus pecados dos quais não tem remorsos e não deseja verdadeiramente libertar-se.

Isso é a graça barata, institucionalizada. Por isso hoje é tão fácil ler nos noticiários de fofocas os ‘babados’ dos que se ‘tornaram evangélicos’. Confesso que nas linhas que escrevi encontra-se minha luta diária de realidade. A graça barata causa a justificação do pecado e não do pecador. Há um abismo enorme entre uma coisa e outra. Como a graça é autossuficiente, tudo pode permanecer como antes, afinal ‘minha força não faz nada’.

O mundo permanece a girar e nós seguimos pecando, mesmo na vida mais piedosa.

Gosto da ironia carregada nas palavras de Dietrich Bonhoeffer, quando diz: ‘Viva, pois, o crente como vive o mundo, coloque-se, em tudo, em pé de igualdade com o mundo, e não se atreva – sob pena de ser acusado de heresia entusiasta! – a ter, sob a graça, uma vida diferente da que tinha sob o pecado!¹'

Graça barata é graça como refugo, perdão malbaratado, consolo malbaratado², sacramento; é graça como inesgotável tesouro da igreja, distribuído diariamente aos ventos a quem queira congregar, sem pensar e sem limites, sem preço, sem custo.

Esse cenário é graça barata como justificação do pecado, mas não justificação do pecador penitente, que abandona o pecado e se arrepende. Não como perdão que separa do pecado. É barata por ser a pregação do perdão sem arrependimento, do batismo sem a disciplina, da Ceia do Senhor sem a confissão e reconhecimento do pecado – justamente oposto, por se achar bom e não pecador.

Caminho cristão sem discipulado, sem a cruz, sem Jesus cristo vivo.

A graça preciosa, por sua vez, é o Evangelho que se deve procurar sempre de novo, o dom pelo qual se tem que orar, a porta à qual se tem que bater. É como o tesouro oculto no campo. É o senhorio que leva o ser humano arrancar o olho que o faz tropeçar, que faz largar tudo e seguir – mesmo que na continuidade de suas atribuições na sociedade.

É preciosa por custar a vida ao ser humano, e por assim, graça, de lhe dar a vida. Preciosa por condenar o pecado, e por justificar o pecador. Preciosa por ter custado a vida do filho de Deus. “Vocês foram comprados por preço” (1 Cor 6.20). Não foi de graça, foi pela graça! Não pode ser barato para nós aquilo que custou caro para Deus. É preciosa porque Deus não achou que seu Filho fosse preço demasiado caro para pagar pelos nossos erros e vida. A Graça é a manifestação de Deus.


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[¹] Extraído do Livro com Título em Português e edição brasileira “Discipulado”, pela editora Sinodal, 2004.
[²] Malbaratado: desperdiçado. Outros sentidos como vender com prejuízo, sem dar valor, desperdiçando, fazendo pouco caso.


Por Félix Martins Lírio