
Chamamos de
antecedentes o que serve de pano de fundo de toda história. Podemos apontar o
final da idade média, com o surgimento dos estados nacionais. Posterior e
simultâneo, o declínio do papado com o pontífice Bonifácio VIII (1285 – 1314).
Tudo desenrolou para o ‘Grande Cisma’.
Para detalhes sobre
o assunto, acesse http://www.mackenzie.br/6962.html.
Descrevo em tópicos
para que possamos ressaltar pontos que culminarão no objetivo da reforma.
Primeiros Movimentos de Reforma
Nos séculos XIV e XV desenrolaram alguns movimentos de
protesto contra vários ensinos e práticas da Igreja Medieval. João Wycliff
(1325?-1384), um sacerdote e professor da Universidade de Oxford, na Inglaterra,
encabeçou um. Ele atacou as irregularidades do clero, principalmente sobre as
superstições (relíquias, peregrinações, veneração dos santos), bem como a
transubstanciação, o purgatório, as indulgências, o celibato clerical e as
pretensões papais.
Abro parênteses aqui para trazer a memória uma comparação
com as igrejas contemporâneas em relação ás superstições e misticismos.
Influenciado pelos escritos de Wycliff, ele que era
sacerdote e professor da Universidade de Praga, João Hus (c.1372-1415), também
encabeçou um movimento importantíssimo. Afirmava que todos os eleitos são
membros da igreja e que o seu cabeça é Cristo, não o papa. Insistia na
autoridade suprema das Escrituras. Hus foi condenado à fogueira pelo Concílio de
Constança. Seus seguidores foram os precursores dos Irmãos Morávios, outro
grupo protestante cujas raízes são anteriores à Reforma do século 16. Outro que
deve ser ressaltado entre os pré-reformadores é Jerônimo Savonarola
(1452-1498), um frade dominicano de Florença, na Itália, que pregou contra a
imoralidade na sociedade e na Igreja, inclusive no papado. Governou a cidade
por algum tempo, mas finalmente foi excomungado e enforcado como herege.
A Reforma - contexto social e religioso
Havia muita violência, baixa expectativa de vida, profundos contrastes
socioeconômicos e um crescente sentimento nacionalista. Com isso muita
insatisfação, tanto dos governantes como do povo, em relação à Igreja,
principalmente ao alto clero e a Roma. Na área espiritual, havia uma
religiosidade baseada em obras, aparência, pagamentos.
Os pagamentos não eram apenas para o perdão dos pecados. Na divisão de cargos
eclesiásticos em um cenário mais podre que as patentes usadas, uma família
comprou uma autorização do papa Leão X, para um nobre, Alberto, que pela idade,
por ser leigo e outros motivos políticos não poderia ocupar uma cadeira de
arcebispo. Resolvido isso, tão logo foi instalado no seu cargo, Alberto
encarregou o dominicano João Tetzel de fazer a venda das indulgências (o perdão
das penas temporais do pecado) para com uma parte pagar as dívidas da família
para compra do seu cargo e o restante para obra da Catedral de São Pedro em
Roma. Quando Tetzel aproximou-se de Wittenberg, Lutero resolveu pronunciar-se
sobre o assunto.
Martinho Lutero (1483-1546)
Martinho Lutero nasceu em 1483 na cidade de Eisleben, na Turíngia. Pretendia
seguir a carreira jurídica, até que em 1505 defrontou-se com a morte em uma
tempestade e resolveu abraçar a vida religiosa. Ingressou no mosteiro
agostiniano de Erfurt, onde se dedicou a uma intensa busca da salvação. Em
1512, tornou-se professor da Universidade de Wittenberg, onde passou a
ministrar cursos sobre vários livros da Bíblia, como Gálatas e Romanos. Isso
lhe deu um novo entendimento acerca da “justiça de Deus”: que não era apenas uma
expressão da severidade de Deus, mas do seu amor que justifica o pecador mediante
a fé em Jesus Cristo (Rm 1.17).
No dia 31 de outubro de 1517, diante da venda das indulgências por João Tetzel,
Lutero afixou à porta da igreja de Wittenberg as suas Noventa e Cinco
Teses, a maneira usual de convidar-se uma comunidade acadêmica para debater
algum assunto. Uma cópia das teses chegou às mãos do arcebispo, que as enviou a
Roma. No ano seguinte, Lutero foi convocado para ir a Roma a fim de responder à
acusação de heresia. Recusando-se a ir, foi entrevistado pelo cardeal Cajetano
e manteve as suas posições. Em 1519, Lutero participou de um debate em Leipzig
com o dominicano João Eck, no qual defendeu o pré-reformador João Hus e afirmou
que os concílios e os papas podiam errar.
Em 1520, a bula papal deu-lhe sessenta dias para retratar-se ou ser
excomungado. Os estudantes e professores da universidade queimaram a bula e um
exemplar da lei canônica em praça pública. Nesse mesmo ano, Lutero escreveu
várias obras importantes, especialmente três: À Nobreza Cristã da Nação
Alemã, O Cativeiro Babilônico da Igreja e A
Liberdade do Cristão. Isso lhe deu notoriedade imediata em toda a Europa e
aumentou a sua popularidade na Alemanha. No início de 1521, foi publicada a
bula de excomunhão.
Nesse ano, Lutero compareceu a uma reunião do parlamento, a
Dieta de Worms, onde reafirmou as suas ideias. Foi promulgado contra ele o
Edito de Worms, que o levou a refugiar-se no castelo de Wartburgo, sob a
proteção do príncipe-eleitor da Saxônia, Frederico, o Sábio. Ali, Lutero
começou a produzir uma obra-prima da literatura alemã, a sua tradução das
Escrituras.
Implicações Práticas
A motivação de todos os reformadores não foi política ou denominacional como
vemos hoje. Eles não buscavam inovação mas restaurar antigas verdades bíblicas
que haviam sido esquecidas ou obscurecidas pelo tempo (leia-se pela ambição dos
líderes – nada como hoje) e pelas tradições religiosas e humanas. Sua maior
contribuição foi chamar a atenção para a importância das Escrituras,
especialmente no que diz respeito à salvação e à vida cristã.
Para que as Igrejas Evangélicas atuais possam manter-se
fiéis à sua vocação, é preciso que julguem tudo pelas Escrituras e não
interpretando pelo achismo. Os reformadores nos mostraram que o critério da
verdade não são os ensinos humanos, nem a experiência espiritual subjetiva, mas
o Espírito Santo falando na Palavra e pela Palavra.
A história da Reforma não é conto de fadas e nem ‘zen’, ‘numa boa’ como
imaginamos. É o relato inconformado, um atrito entre a verdade e o comodismo,
para não falar canalhice por parte dos ‘coronéis da fé’. Nem sempre é
agradável, mas inspiradora.
Por causa das profundas conexões entre elementos religiosos
e políticos, esse período foi marcado por muita violência em nome da fé. Porque
a religião cega as pessoas, as paixões que desperta podem se tornar
terrivelmente destrutivas, ainda mais somadas com poder e política. Sigamos
nós, com o objetivo da reforma, ter a motivação de Cristo.
A reforma não parou por aí. Ela seguiu. Falaremos ainda no
site sobre Ulrico Zuínglio, os Anabatistas, João Calvino, e todo reflexo da
ação desses homens.
Imagem disponível em: http://ipcg.org.br/a-reforma-protestante-do-seculo-xvi/