18.1.17

Discipulado - a graça preciosa (parte 2)

Leia a primeira parte desse assunto clicando aqui.



Com a expansão do cristianismo e a secularização crescente da igreja, a consciência da graça preciosa perde-se gradualmente. O mundo estava cristianizado, a graça passara a ser propriedade comum de um mundo cristão. Tornando-se assim barata, caindo no automático, na rotina, formalidade.

O que preservou a graça ainda como preciosa, foi uma má interpretação da mesma. O monasticismo, tolerado pela igreja romana, foi quem manteve com o abandono da vida que possuíam, levando a vida procurando servir os severos mandamentos de Jesus na prática diária. Dessa maneira houve o protesto vivo contra a secularização do cristianismo, contra o barateamento da graça.

Entretanto, pelo fato de ter tolerado a vida monástica, evitando assim uma cisão definitiva na história da igreja romana, a igreja o relativizou, encontrando nele certa justificação de seu próprio mundanismo. A vida monástica restringia-se e transformava-se numa realização especial de caráter individual, que não poderia ser exigida ao povo cristão.

O monasticismo não se enquadra no que o apóstolo Paulo se refere acerca do não casamento para uma vida dedicada. A despeito disso, o monasticismo distanciou-se essencialmente do cristianismo por se deixar transformar ele próprio na realização excepcional, voluntária, restringida a poucos, reivindicando a si mérito especial. Isso não é discipulado, nem graça preciosa, pois a graça não se restringe a alguns.

A história toda mudou por intermédio de Lutero, que na Reforma, avivou uma vez mais o Evangelho da graça pura e preciosa. Mas antes Lutero teve sua vida consagrada totalmente no convento. Ali aprendeu nas escrituras que somente o obediente é que pode crer. As escrituras lhe mostraram que o discipulado de Jesus não era a realização meritória de alguns, mas um mandamento estendido a todos os cristãos.

A graça nos leva ao mundo, não que este seja bom e santo. Estamos na graça piedosa quando não precisamos viver com nosso eu piedoso, com o si mesmo – aquele que quiser vir após mim, negue-se a si mesmo. O discipulado da graça preciosa é para ser vivido no seio do mundo. Essa obediência ao mandamento de cristo deve acontecer na vida profissional todos os dias.

A vocação de cada cidadão no mundo recebe nova legitimidade a partir do Evangelho somente à medida que é exercida no discipulado de Jesus. O que impulsionou Lutero não foi a justificação do pecado, mas do pecador. A graça leva ao serviço, ao discipulado.

Quando entendemos errado a graça caímos no pensamento que, se a graça é suficiente para pagar todos os pecados e me justificar, então se eu viver naturalmente como tenho vivido, tudo como antes, vivendo na certeza que a graça de Deus encobre. O mundo inteiro está se tornando ‘cristão’ nessa premissa, desta graça. A má utilização dessa mensagem de graça conduz à completa destruição.

O desafio hoje é em meio a tanto falatório não se deixar pela facilidade e comodidade, entrar pela graça barata, sem responsabilidade dos atos.

Para esse pensamento sobre a graça preciosa no entendimento de uma vida de discipulado, cito Hebreus 10, que no contexto sobre o sacrifício de Cristo e seu valor eterno, diz a partir do versículo 16 ao 18:  "Esta é a aliança que farei com eles, depois daqueles dias, diz o Senhor. Porei as minhas leis em seus corações e as escreverei em suas mentes"; e acrescenta: "Dos seus pecados e iniquidades não me lembrarei mais". Onde essas coisas foram perdoadas, não há mais necessidade de sacrifício pelo pecado.; e acrescenta no versículo 26 e 27: Se continuarmos a pecar deliberadamente depois que recebemos o conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados, mas tão-somente uma terrível expectativa de juízo e de fogo intenso que consumirá os inimigos de Deus.

A fidelidade está imbuída na vida cristã, na vida de discipulado, no reconhecimento da graça preciosa. Dessa forma o escritor aos hebreus finaliza o capítulo.


Mas o meu justo viverá pela fé. E, se retroceder, não me agradarei dele". Nós, porém, não somos dos que retrocedem e são destruídos, mas dos que creem e são salvos.

Hebreus 10:38,39



Por Félix Martins Lírio