Vivemos a geração do Eu. É o que concluiu uma nova análise,
que constatou um declínio na participação cívica e preocupação com os outros ao
longo de quatro décadas, além de um aumento nos objetivos de vida do tipo
“ganhar muito dinheiro”.
“Os dados analisados sugerem que a visão
popular de que os nascidos após 1982 são pessoas que se importam mais, que são
mais orientadas para a comunidade e politicamente engajadas do que as gerações
anteriores é amplamente incorreta”, escreveram os pesquisadores, liderados pelo
professor de psicologia Jean Twenge, da Universidade Estadual de San Diego.¹
O pensamento de hoje é um pouco distinto
dos demais. Vou estar citando e comentando uma pequena parte introdutória do
livro Evidence for the Resurrection (Evidências
da Ressurreição), com data de primeira edição em 2009 nos EUA. O livro em
português está disponível na internet, com edição da CPAD. Os trexos do Livro estarão em Itálico.
Esse livro é escrito por Josh e Sean
McDowell. São apologistas Cristãos, pai e filho. O trecho abaixo foi escrito por
Sean.
Sean McDowell possui a graduação summa cum laude do Talbot Theological
Seminary, com dupla graduação, em Teologia e filosofia. É diretor do
Departamento Bíblico da Capistrano Valley Christian Schools. Seam é um
palestrante conhecido nos Estados Unidos, ministrando em campus de
universidades, igrejas e escolas, e também em conferências (veja www.seanmcdowell.org). Também é o
palestrante nacional para a Wheatstone Academy, uma organização que se dedica a
treinar jovens, fornecendo-lhes uma perspectiva bíblica de mundo. É o editor
geral da obra The Apologetics Study Bible
for Students.
A
geração dos jovens de hoje, com menos de 35 anos, nunca conheceu um mundo que
coloque o dever antes do ego. Para esta geração, o indivíduo sempre vem em
primeiro lugar, e a virtude número um é sentir-se bem consigo mesmo. Para as
gerações anteriores, o dever e a responsabilidade substituíam as necessidades e
os desejos individuais. O sacrifício dos
desejos pessoais pelo bem maior era considerado uma virtude. Isso não é
mais verdade para os jovens de hoje.
Confesso que pertenço a essa geração que
impregnou-nos com esse pensamento, com a individualidade, com a popular ‘Lei de
Gérson’ – tirar a vantagem em tudo. Sempre que nos é falado em dever, vemos com
olhos cerrados, sem muita empolgação, e total repulsão, aliás. Sempre vemos
sobre direitos. Manifestações buscam direitos, e nessa busca acabam pisoteando,
destruindo, negando, não dando a mínima para seus deveres.
A busca do mundo secularizado é pelo eu:
sentir bem. Vemos casamentos que iniciam até que eu não esteja contente com o
que estou recebendo da relação, até
o que coloquei como objetivo (felicidade sexual?) acaba, segundo as
expectativas individuais – homens e mulheres.
No evangelho essa individualidade não tem
espaço, o dever e a responsabilidade está acima dos desejos individuais.
Hoje,
os jovens crescem em uma cultura que pressupõe que eles devem se sentir bem
consigo mesmos, que são especiais e que devem buscar os seus próprios sonhos
pessoais. Apenas observe os testes de milhares de jovens no programa de
calouros American Idol [Ídolos],
que, apesar de sua falta de talento, estão convencidos de que são os próximos
astros. A sílaba “My” [meu] em MySpace também é muito significativa.
Quem nunca ouviu ou leu (e até falou) que
o importante é ser feliz, é estar bem consigo mesmo, que devemos fazer tudo em
busca da satisfação pessoal? Vídeos na internet nos mostram cada vez mais as
pessoas fazendo de tudo para ‘se aparecerem’. Fotos são para passar uma imagem
de ‘satisfação’, mesmo estando insatisfeito com tudo.
A busca é por destaque. Afinal, quem não é
visto não é lembrado! Bobagem. No cristianismo não há espaço para pensamentos
assim. Vemos na realidade religiosa (não confunda com cristianismo) uma busca
por destaque. As pessoas por ignorância querem isso! Ficam bravas se não ganham
oportunidades de estar ‘fazendo algo na igreja’, trocam de ‘denominação’. A motivação
de congregarem é o indivíduo e não a comunhão. Buscam uma contemplação de Deus
e não dão a mínima para o que o próximo está sentindo ou passando ao lado, se
tem fome, frio, sede, dificuldades.
O Deus deles é o próprio umbigo! O mundo
gira em torno estarem ‘bem’. Só querem de Deus.
Seja
você mesmo, acredite em si mesmo, expresse-se. Você, você, você!!! Tudo tem a
ver com o ego e com o indivíduo. Você percebe a conexão entre a ênfase no
indivíduo e o pecado de Adão e Eva? É basicamente o mesmo pecado – a rejeição
do amor e da orientação de Deus, em favor de buscar os próprios desejos e
estabelecer o próprio caminho. A juventude de hoje nos apresenta um retrato
claro de alienação do Deus que é a única fonte de amor, vida e satisfação.
Nunca o ego foi tão valorizado na
civilização e na religião. Para muitos, estar em um papel de destaque é tudo. Ser
autossuficiente. No cristianismo nunca seremos autossuficientes, seremos
totalmente dependentes. Nas reuniões religiosas há mais alienação que adoração.
Há inversão de valores. Contemplação é visto como o tudo, já o serviço é
especifico para os que tem ‘chamado’. Novamente digo, idiotice, ignorância (do
conhecimento).
Há tantas denominações porque o homem
busca estabelecer o próprio caminho. Pregadores surgem como capim,
estabelecendo o próprio caminho, acreditando em si mesmo, exaltando seu ego,
para atrair atenção e estarem satisfeitos. ‘Nunca desista dos seus sonhos’. Ok.
Esses sonhos buscam seu ‘estar bem e contente’? Devemos buscar uma
cristianização de nossos sonhos e vontades.
Tão
poderosa tem sido essa mudança cultural do grupo para o indivíduo, que até
mesmo o exército a acompanhou. Em 2001, o seu lema passou a ser “Um exército de
uma pessoa”. Em outras palavras, eles não mais atraem recrutas com base em se
unir a um grupo coletivo que sacrifica as necessidades individuais pelo bem
maior da sociedade. Agora eles devem encorajar os jovens a se alistar porque
isso lhes fará algo, como indivíduos.
O lema do exército Brasileiro é braço
forte, mão amiga. Ok. O autor nos apresenta, em uma nação de primeiro mundo,
que o lema do exército está totalmente individual. Busca-se atrair as pessoas
pelo que elas, individualmente, possam fazer. Desafie o ego de uma pessoa para
fazer algo que você queira, e ela vai fazer. Não porque ela identifica uma
necessidade sua, mas porque ela foi desafiada em suas capacidades. O ego de ‘super
heróis’. Se não for eu a fazer, não será bem feito.
No contexto religioso, há individualidade?
Faz-se campanhas para atrair pessoas pela individualidade? As campanhas buscam
a satisfação de necessidades individuais ou coletivas? Qual a motivação? Dispensa
comentários.

O que dita as ações é a auto expressão. Vemos
que se ‘enquadra’ como cultura a prática de ‘análise anal’. Ou seja, tudo o que
você fizer vale, pois na sua individualidade você faz e expressa uma leitura da
cultura. Não existe certo e errado, você é quem decide sobre isso.
O que antes visava o coletivo, visa o indivíduo.
Vemos esse exemplo também no futebol. Uma seleção depende da atuação de um só
indivíduo, todos jogam esperando a atuação individual para fazer a diferença. E
a ação tática toda parte desse princípio.
E no contexto religioso? Há alguma ‘performance’
visando o individual? Bem, podemos perceber que a individualidade, a busca desenfreada
pela satisfação do ego também está impregnada no contexto religioso. Porém não
há espaço para isso o cristianismo. Ao pedir para que todos juntos citemos um trecho
das Escrituras, sempre haverá algumas pessoas que lerão mais rápido do que as
outras, não é?
O
mantra desta geração poderia ser: Faça o
que for necessário para se sentir bem consigo mesmo, porque isso é o mais
importante do mundo. Essa falsa noção de felicidade, como satisfação
prazerosa, está custando muito caro aos jovens de hoje. O apologista cristão J.
P. Moreland propõe uma pergunta muito pertinente: “Se a felicidade tem um
sentimento interno de diversão ou satisfação prazerosa, e se é o nosso principal
objetivo, onde colocaremos o nosso foco, durante o dia todo? O foco está em
nós, e o resultado será uma cultura de indivíduos absortos em si mesmos, que
não Conseguem viver por algo maior do que nós mesmos”².
Aos olhos de muitos jovens, a escola, o trabalho, os esportes, a igreja e até
mesmo Deus existem como meios de trazer felicidade pessoal e satisfação.
Vemos uma busca frenética por ‘ministério’
– principalmente o pastoral. Há pessoas, que sua felicidade está focada nisso. Eles
fazem o que for preciso para ‘conquistar’ esse título. Isso é mais importante
que a função pastoral em si.
Tudo é visto da perspectiva de conquistar,
satisfazer, buscar, o prazer individual, pois assim estarão obtendo o que
pensam ser felicidade, estarão satisfeitos consigo mesmo (só que não!).
Estamos vivendo em tempos que as pessoas
vão a uma instituição religiosa afim de desfazer as burradas do individualismo,
porém com a ênfase no indivíduo maior ainda: buscam a Deus para que Ele
solucione seus problemas e satisfaça os ‘desejos do seu coração’. A igreja deve
ter o papel de acolher e ensinar essas pessoas, e não fomentar esse pensamento
através de campanhas, correntes de oração com propósitos individuais.
Não devemos regrar nossa vida com essa
base. O que o cristianismo aponta é totalmente oposto, é ‘negar-se a si mesmo a
cada dia’, é deixar nossa satisfação pessoal (ego) em segundo plano pelo
propósito maior.
Em
seu livro Soul Searching, Christian
Smith observa que a maior parte dos jovens considera Deus como um terapeuta
cósmico que existe para satisfazer as necessidades deles, em vez de entenderem que o propósito que deveriam ter
precisaria consistir em amar a Deus e às outras pessoas. Smith conclui: “Até pudemos
discernir, aquilo em que muitos jovens parecem crer é que a religião tem a ver
com Deus atendendo aos desejos autoritários e sentimentos das pessoas... a
religião é essencialmente um instrumento que as pessoas usam para obter o que
desejam”.³
Chegamos agora em um ponto crucial da
história da igreja. O cenário que encontramos sobre Deus, não apenas nos
jovens, é de um terapeuta cósmico voltado à satisfação de nossas necessidades.
Cristianismo não é Deus atendendo nossas
vaidades. ‘A religião é essencialmente um instrumento que as pessoas usam para
obter o que desejam’. Eu determino! Eu declaro! Eu isso, eu aquilo! Está ouvindo
Deus? É bom o Sr. atender as minhas ordens. Idiotice.
Feitiçaria ‘gospel’. Achar que com a
oração pode-se manipular a Deus (mesmo que inconsciente disso) para atender a
vontade de nosso ego, nossas vontades e desejos, isso é feitiçaria. Ora,
tenta-se usar algo espiritual para manipular algo que está acontecendo no
natural (geralmente fruto de nossas ações que ‘não aceitamos’).
Usa-se a oração com campanhas sem
escrúpulos (dispostas até na propaganda de ‘marketing’ da instituição religiosa
– atraindo assim as pessoas para ‘resolver’ seus problemas). Usa-se o jejum –
campanha de jejum e oração para a prosperidade financeira (ou cura de
enfermidades que são consequências de um descaso com a saúde, busca de
felicidade, casamento). Feitiçaria pura! O evangelho de Jesus Cristo NUNCA
ensinou e jamais incentivou essas petições (discorda? Comente abaixo).
Ironicamente,
quando as pessoas se concentravam principalmente no seu próprio prazer, a vida
se torna vazia e frequentemente o resultado é a depressão. Conforme o
especialista em felicidade, Dr. Martin Seligman, as pessoas nascidas após a
Segunda Guerra Mundial vivenciaram dez vezes mais depressão do que qualquer
geração anterior.4 A razão: Elas começaram
a ter um foco no indivíduo. Hoje em dia, os jovens crescem completamente com
essa ênfase e, como resultado, vivenciam níveis ainda mais altos de depressão.
Temos um índice cada vez mais crescente de
suicídio e também de depressão. Crianças, adolescentes e jovens estressados, apelando
a drogas – lícitas e ilícitas – para dormir ou manter-se acordado, para sair da
realidade.
Eu já passei por uma depressão. Tinha aproximadamente
18 anos. O meu foco era voltado aos meus desejos individuais, e somado a
diversos fatores, acabei virando mais um na estatística. Não devemos demonizar
todas as doenças.
O ter não deve sobrepor ao ser. Eu queria
ter, mas não ser. Queria tudo instantaneamente, sem trabalhar para isso.
Hoje
em dia, os jovens têm muitas vantagens que as gerações anteriores desconheciam:
a internet, o telefone celular, viagens mais cômodas e mais baratas, melhoria
na assistência médica, melhor educação, menos trabalho físico, oportunidades
melhores, direitos iguais, e, para a maioria, a liberdade de fazer as suas
próprias escolhas. Mas o problema, para muitos, é que não tem nada em que se
concentrar, além de si mesmos. Esta geração foi treinada para se concentrar no
indivíduo, às custas de um propósito maior na vida.
Vemos que necessitamos de um salvador. A geração
do Eu está fadada à extinção. Cada vez mais atola-se no individualismo e a
criação sofre as consequências.
Deus não é um padrinho, papai Noel, ou um
bom velho que recompensa os que fazem certinho e dá presentes. Deus nos
ofereceu a solução eterna disso tudo através de Jesus.
Deus reconciliou consigo o mundo. Deus
teve a iniciativa e a ação. Está disponível para todos a salvação disso tudo.
Fomos salvos da condenação do pecado, estamos sendo salvos da influência do
pecado e seremos salvos da presença do pecado na eternidade.
Vamos ficar nessa do ‘Eu’ ou vamos ter um
propósito maior na vida? Vamos ficar guardando nossa religiosidade e esquecer
do próximo que necessita dessa salvação? Vamos individualizar o cristianismo a
ponto de virar apenas uma religião?
Vamos ser pequenos Cristos nessa sociedade
em decadência.
Imagens: www.taringa.net e www.huffingtonpost.com
¹ Hypescience.com
² J. P. Moreland e Klaus
Issler, The Lost Virtue of Happiness.
Colorado Springs, CO: NavPress, 1997, p. 81, 82.
³ Christian Smith, Soul Searching. Nova York: Oxford
University Press, 2005, p. 149.
4 Geoffrey Cowley, “The
Science of Happiness”, Newsweek, 12 de
Setembro de 2002, p. 48.
Por: Félix Martins Lírio