Vou ser mais direto a partir de agora.
Devido ao analfabetismo funcional, onde mesmo sabendo ler não se entende, há
essa necessidade. Deixar no ar, sugerir... isso não funciona com ignorantes!
Procurarei sempre disponibilizar um glossário para auxiliar em palavras não tão
populares.
Há no circo religioso – isso mesmo, circo
- absorção, mesmo que intrínseca, de
‘empoderamentos’, de ideologias recentes e infundamentadas para colocar o homem
em um papel que não lhe cabe. Nos termos teológicos Antropocentrismo[1].
Não é recente esse desvio da centralidade
do evangelho na igreja. Historicamente percebemos isso. Vemos que por falta de
conhecimento e sobra de infantilidade as pessoas são levadas a um misticismo
anticristão, inserindo nos ritos de reunião objetos, ou ações vindas de
pensamentos para atrair a atenção dos (in)fiéis. Seja por ignorância ou caso
pensado, é um erro. Mas um erro que condena a muitos que cegamente procuram
pela bizarrice (refiro-me as pessoas que vão em busca desses shows, dessas
aberrações).
Nesse contexto vemos uma imagem quase
beatificada: a ‘super ovelha’. Não vou imputar a culpa nos escritores e no
cinema para isso entrar no ‘ramo de negócio evangélico’. Desde as músicas às
pregações, liturgia aos cumprimentos, linguagem... tudo remete a isso –
empoderamento da ovelha.
Na figura de linguagem Bíblica somos
comparados a ovelhas e Cristo ao pastor, que conduz, cuida, guia. Não é a
finalidade deste texto expor a função do pastor de ovelhas para explicar o
motivo dessa comparação.
Quero apenas citar dois textos que mais
sofrem com essa bestialidade: Salmo 23 e Mateus 10.16 – especificamente.
O Salmo 23 dispensa muitos comentários
sobre contexto. Com a inversão do papel, mostra-se uma ‘ovelha’ no papel
principal, e não como objeto cuidado; mostra como protagonista merecedora dos
cuidados, e não do cuidado espontâneo da sua fraqueza e fragilidade.
Mateus, em um relato profundo sobre
ensinamentos na fala de Jesus, no versículo, expõe uma preocupação seguida de
conselho prático: comportamento diante do problema. O predador é o lobo, a
ovelha presa. Com a ‘teologia bestial’, inverte-se e cria uma super ovelha,
capaz de andar em meio aos lobos sem medo de ser devorada, pois ‘o senhor é meu
escudo e fortaleza’ – ótima interpretação de contexto, não é? E se usássemos a
frase ‘ninguém toca no ungido’? Ou então, quem sabe, vamos brincar com o
predador...
A imaginação que tenho é de uma ovelha
fraca que após ser encilhada pela religião, levanta sob duas patas e sai toda
imponente esmurrando os ‘lobos’ por onde passa. Está mais para o Pacato, o animalzinho medroso do He Man que se transformava pelos poderes de Grayskull. O pensamento
de invencibilidade toma conta.
Ignorância pura ou manipulação? Fico sem
saber ao certo se é show de entretenimento ou burrice. O que sei é sobre a consequência
desastrosa.
Por Félix M. Lírio
[1]
substantivo masculino
fil rel
forma de pensamento comum a certos sistemas filosóficos e crenças religiosas
que atribui ao ser humano uma posição de centralidade em relação a todo o
universo, seja como um eixo ou núcleo em torno do qual estão situadas
espacialmente todas as coisas (cosmologia aristotélica e cristã medieval), seja
como uma finalidade última, um télos que
atrai para si todo o movimento da realidade (teleologia hegeliana).